quarta-feira, 29 de abril de 2009

Noite de chumbo

Meia-noite em ponto, diz o relógio na área de trabalho do meu laptop. Liberto da energia elétrica, com baterias tão inacabáveis como qualquer cidadão de Taurinos, é o relógio mais confiável que posso ter agora. Os olhos pesam, minhas pálpebras parecem feitas de puro chumbo. Penso nas desgraças do dia anterior. Deveria ter contatado alguém, "sêo" Danilo, Adriano, Andrés; ao invés disso, passei o dia num rodopio sem fim de idéias desconfortáveis e perturbadoras que vinham de todos os lados. Por que tenho de passar por tudo sozinha, afinal? Por que não dividir as coisas com os outros?

Porque de novo a culpa é toda minha. Fico aliviada em saber que pelo menos poupei Adriano de uma situação difícil. Não era culpa dele que eu tivesse usado o apelido de Renan para começar a perguntar a ele sobre seu "trabalho". Não era suficiente perguntar sobre as coisas que os dois tinham me contado? Por que usar o apelido do qual Renan tinha tanto ódio? E por que tanto ódio por causa de um apelido que nem pejorativo era? Um apelido poético afinal de contas, bonito até demais para a natureza daquilo que ele faz na cidade.

Talvez porque ele sofra o que faz como uma maldição estranha. Eu, Stella Freitas-Grisam, encararia assim. Uma espécie de maldição, exatamente isso. Algo que faz com que ele veja o apelido poético como zombaria em cima de um sofrimento que é caçar forasteiros, entidades, corpos estranhos à cidade tão automaticamente como ele faz pelas descrições que se fizeram dele. A compulsão dele é também seu sofrimento e fonte de orgulho. Sentimentos tão misturados, tão confusos. Ninguém poderia viver assim tão dividido. Mas ele vive. Um menino de dez anos dividido dessa maneira, uma lenda engasgando com um prosaico pão de queijo em minha cozinha por não suportar o peso do próprio apelido. Ele parece pensar, "Eu fico me fodendo aqui pelas noites enquanto a cidade dorme e vem a cidade me colocar apelidos? Pois muito bem, vou botar pra foder em cima de quem me chama por esse nome." Se ele vai passar a eternidade desempenhando essa função, eu poderia ajudar o menino ao menos retirando da psique dele o peso que ele parece dar ao nome tão estranho, mas tão bonito em minha opinião.

Esclareço: nunca fui fã da Polícia. Nem de longe. O agora finado Lopes meu deu em 1994 uma amostragem do poder de fogo deles que quase me pôs louca. Mas tenho de admitir que nesse caso o apelido tem tudo a ver com a função que Renan desempenha em Taurinos. É bonito enquanto fala de uma condição para a qual Renan parece ter sido criado. O menino não é, nesse sentido, diferente de nenhuma polícia do mundo. E, eu estava para descobrir, provavelmente em nenhum sentido, realmente.

Os olhos pesam cada vez mais. Apreensiva, ligo a TV na Rede Minas, retransmitindo a TV Educativa; procuro me distrair com um documentário sobre a vida e a obra do mineiro Aleijadinho de Vila Rica e seus trabalhos monumentais em Congonhas do Campo. O documentário não parece ser o suficiente. Os sons de uma orquestra percussiva de sapos lá fora, misturados aos grilos e curiangos do caminho me distraem, mas me hipnotizam cada vez mais. Como se me enviassem a um estado de sono que sei, a cujo luxo não poderei me dar esta noite. Ou eu poderia me deixar dormir e testar todo o poder de fogo da Polícia Obscura esta noite. Quem vencerá, a curiosidade e o sono ou o medo do que poderia estar me aguardando no mundo dos sonhos esta noite? Renan tinha sido categórico; coisas pavorosas me aconteceriam se eu ousasse pregar o olho esta noite. Provavelmente às seis da manhã tudo estaria bem. Ele disse: esta noite. A noite termina às seis da manhã. Quando o carro de Mitra iniciasse sua subida pelo céu, eu estaria segura, se o que entendi das palavras dele for real.

Na ansiedade, liguei para a fazenda Teixeira. Um Guilherme sonado e lento como um caracol atendeu. Perguntei pelo irmão caçula dele. Ele disse que estava dormindo. Pedi que ele fosse ao quarto do irmão olhar. Ele protestou, perguntou se eu não acreditava na palavra dele, louco para voltar para sua cama e dormir, mas foi. Retornou e disse que Renan estava dormindo como um anjo. Só se fosse como um anjo da morte.

Liberei o pobre menino e desliguei o telefone. A afirmação de Guilherme me aliviou. Não haveria tempo de Renan chegar até aqui e me provocar qualquer tipo de pesadelo ou fosse o que fosse. Assim que desliguei o telefone, o ruído da aldrava na porta da frente de minha casa me gelou por dentro. Pancadas fortes, definidas. Levantei da poltrona num estado de nervos ainda desconhecido pela Psicologia e fui devagar até a porta.

"Quem está aí fora?", perguntei, tremendo da cabeça aos pés.

"D. Stella, abre a porta, sou eu, Andrés", disse a voz familiar do gordinho.

Ainda apavorada, abri a porta. O que estaria Andrés fazendo aqui a essas horas quando todos nesta cidade dormem mais tardar às dez da noite? Olhei. Era realmente Andrés. Ele perguntou se poderia entrar. Ficou olhando fixo para mim. Sem mais delongas, perguntou porque eu tinha que ter falado com Renan usando aquele apelido durante o café da manhã. Não estou ainda acostumada à visão onisciente que Andrés tem de Taurinos (ou seja, de si mesmo), mas sei que ele "viu" e "ouviu" toda a nossa conversa.

"D. Stella. Tem mais alguém aqui dentro."

"Como é que é???"

"Vamos acender todas as luzes da casa. A luz do alpendre também."

Um calafrio me desceu pela espinha, forte, chamando a atenção de Andrés para minha pele arrepiada. Fomos caminhando pela casa e acendendo as luzes enquanto os calafrios subiam e desciam pela minha espinha sem paradeiro.

Andrés então me disse com todas as palavras que Renan estava na sala junto conosco. Eu argumentei que o tinha visto ir embora. Que eu tinha acabado de ligar para a fazenda Teixeira e falado com Guilherme. Que o irmão mais velho tinha ido ao quarto dele conferir e que ele realmente estava dormindo.

"Eu sei que ligou. Eu "vi". Mesmo assim, a Polícia Obscura está aqui na sala exatamente agora. Acredite em mim. Ele está só esperando a senhora dormir. E ele está no quarto dele na fazenda Teixeira dormindo tranquilamente. Exatamente como o "Guilherme" (e Andrés fez um sinal de aspas ao pronunciar o nome do amigo) acabou de lhe dizer. Ou até acordado, planejando o que fazer com a senhora. Ele deve estar se divertindo sozinho no quarto dele, se está acordado."

Engoli em seco. Ele me perguntou se eu queria que ele passasse a noite comigo. Disse que nós poderíamos conversar e espantar o sono. Perguntei se era assim tão complicado que por isso ele viesse aqui se dar a esse trabalho de passar a noite em claro junto comigo. Ele fez que sim com a cabeça. Disse novamente que a Polícia Obscura estava dentro da minha casa. Repetiu isso umas tantas vezes. Meu medo começou a se transformar em pavor.

"A senhora já ouviu falar em Jurupari?"

"O ser que vem à nossa cama?"

Ele novamente fez que sim com a cabeça.

"Sabe, não é nem um pouco agradável receber a visita dele durante a noite. Aqui o Jurupari é conhecido como Polícia Obscura. O mesmo gordinho com cara de ursinho que tomou café com a senhora de manhã. A senhora não acreditaria em como ele se manifesta. Não é uma experiência que a gente possa fazer como um teste, tipo, para ver o que acontece e beleza."

"É o que se chama de terror noturno em Psicologia. Uma sensação de morte iminente. A sensação de que o quarto onde dormimos é visitado por um ser medonho."

"Sim. E o ser que vem à nossa cama já está aqui dentro. Está na sua cama. Está aqui no sofá. Naquela poltrona. Onde quer que a senhora se deite. Onde quer que a senhora adormeça, lá ele vai estar. Começa aos poucos, mas vai dobrando de intensidade até atingir o máximo. Vai crescendo durante seis horas, da até as seis da manhã."

"Como ele pode estar dormindo e estar aqui ao mesmo tempo, Andrés?", eu parecia incapaz de formular uma pergunta inteligente sob tanta pressão.

"Me admiro logo a senhora com todo esse trabalho de corpo… como que é mês o nome? Corpo astral, né? Isso, me admiro a senhora com esse trabalho de corpo astral que fez a gente fazer lá em casa me perguntar isso. E, não é só isso, a senhora não conhece todos os aspectos do Renan. A Polícia Obscura é um aspecto dele. Todos nós temos aspectos diferentes no dia-a-dia, né? Na escola nós sete somos diferentes do que somos na Cachoeira dos Chifres ou no centro da cidade, por exemplo. O Renan que tomou café hoje aqui é um aspecto diferente do mesmo Renan que lidou com o touro durante a cerimônia no Mithraeum no início de março. Não fosse assim, tudo estaria misturado e seria uma puta confusão. Você tentaria matar um touro enquanto a professora tenta lhe ensinar geometria, entende o que eu quero dizer? A Polícia Obscura é um outro aspecto dele ainda. Entende?"

"Eu entendo. Os deuses também são representados em diferentes aspectos dentro de uma mesma mitologia. Aspecto aí vem até a ser um termo técnico em mitologia, assim como paixão. Exatamente como você está falando."

Ele ficou pasmo ao ouvir dizer que paixão era um termo técnico, mas continuou.

"É, isso, os deuses e tudo isso, exatamente assim. É bom falar com pessoas que entendem rápido porque já trabalham com isso."

"Renan sabe disso, mas ele se lembra de que causa essas coisas nas pessoas pelas quais ele passa à noite?"

"Não, a Polícia Obscura é como se fosse um lobisomem. Quando o Renan retorna para a fazenda Teixeira, troca de roupa e dorme (e a senhora não iria reconhecer ele naquele pijama de bolinhas), não se lembra de nada no dia seguinte, só que ele fez o que tinha de ter feito. Disso ele se lembra completamente e com detalhes. Porque como aconteceu com a senhora daquelas vezes, dois dias seguidos, ele fez consciente. Mas quando sai à noite ele não se lembra do que aconteceu quando estava cavalgando, mas lembra do que fez. Então, cruzando o caminho das pessoas dentro da noite, ele não se lembra de nada, porque ele está concentrado no alvo dele e em nada mais. Isso de cavalgar à noite é um dos motivos pelos quais ele é chamado de Polícia Obscura. A senhora sabe que não existe polícia em Taurinos. Sabe disso há muito tempo já. Quando se fala em polícia aqui, o povo quer dizer Polícia Obscura."

Andrés foi até a janela do alpendre olhar a noite. Pelo menos, era isso que eu achava que estava acontecendo. Olhou para fora, olhou para mim e me chamou até a janela.

"Bom, encontrei o Renan. Olhe lá fora e me diga o que está vendo."

Me levantei e fui até a janela. Ao chegar ao lado dele na janela e olhar para fora, quase não consegui segurar um grito de espanto: um cavalo preto estava amarrado numa das colunas do alpendre. O cavalo me olhou diretamente nos olhos. Um olhar gelado e fixo como o de um ser obsediado. A figura do cavalo fixando os meus olhos, se recortando palidamente no fundo escuro da noite de breu lá fora, mesmo iluminado pela luz do alpendre (ou até por causa disso), formava um espetáculo sinistro e bizarro que me perturbou absurdamente.

"Eu não ficaria olhando nos olhos desse cavalo se fosse a senhora", aconselhou Andrés ao notar o meu assombro, "já foi bem ruim a senhora ter visto ele, eu pedi que olhasse para que a senhora entenda melhor o que eu disse. A senhora ouviu esse cavalo se aproximando?"

"Não, não ouvi nada… Meu Deus…"

Embora achasse que o ruído da televisão pudesse ter mascarado a chegado do cavalo com Andrés, pensei que quem não acredita em Deus passa a acreditar num momento como esse. Pelo sim e pelo não. O menino me olhava sério e não tardou a me puxar para longe da janela. Para meu espanto, abriu a porta e me chamou para fora. Disse que eu não precisava ter medo.

"Não há nada aqui fora, D. Stella, pode vir e ver."

E resultou que o cavalo não estava lá. Ele me disse que eu só poderia ver o cavalo preto através da janela. Então quando voltamos para dentro, olhamos pela janela e o desgraçado do bicho estava lá fora!

"Esse cavalo é um cavalo normal daqui da nossa fazenda. Todos os cavalos pretos que nascem são dados para o Renan. Ninguém mais na cidade tem cavalos dessa cor. Assim que nasce um, chamam o Renan para levar embora. É um cavalo normal, mas ele está no mesmo aspecto da Polícia Obscura que acabamos de falar. Porra, não olhe o cavalo nos olhos não, D. Stella!"

O olhar do animal lá fora, dentro da noite de breu fechado me hipnotizava, perturbava, fascinava, aterrorizava, tudo ao mesmo tempo. Andrés teve de fechar a cortina para desviar o meu olhar e procurou me afastar o quanto antes da janela.

"É assim mesmo, ele parece que quer hipnotizar a gente. Agora, não me pergunte porque essas coisas acontecem. Elas acontecem porque acontecem. Eu sei de tudo isso porque eu sei de tudo isso. As coisas são assim porque as coisas são assim."

Quando voltamos, ouvi um chiado rítmico vindo da mesa de centro. Meu mp3. Coloquei os fones no ouvido para ouvir de era dali que vinha. Era uma canção tocando aleatoriamente. Há quanto tempo ele estará ligado tocando?



"Vai! Empurra ele para longe! Não! Não o deixe ficar! Ele entra para encará-la, a boca aguada, a boca que conhece o você secreto. Sempre você. Um sorriso para esconder o medo. Oh, borre as paredes com esse homem. Como se fosse morango e chantilly. É o único jeito possível. Exatamente o mesmo quarto limpo. Exatamente a mesma cama limpa. Mas já me demorei demais por aqui desta vez. E fiquei grande demais para caber aqui desta vez…"

Empurra, escrito por The Cure



Desliguei o mp3. Respirei fundo. Eu não sabia o que dizer, o que perguntar em seguida. Andrés se sentou no sofá. Depois de uma pausa, levantou e disse que teríamos uma longa noite pela frente. Perguntou se havia café. Fomos à cozinha e eu preparei um bule com bastante pó para que fosse bem forte. Coloquei música suave no som da sala e retornei. Ficamos por algum tempo comendo bolo de fubá e tomando café quietos, sem dizer uma palavra que fosse um ao outro, até que Andrés quebrou o silêncio.

"Eu lhe disse várias vezes que Adriano fala demais. Mas a senhora não precisava ter chamado o Renan por esse apelido. Poderia ter conversado com ele sem usar o apelido, talvez tivesse descoberto coisas interessantes sem precisar entrar nessa situação."

"Por que Renan tem tanto ódio assim desse apelido? Não é como chamar alguém de idiota, não?"

"Acho que ele vê como brincadeira com o trabalho importante que é livrar Taurinos das pessoas de fora. Mas, não posso ler os pensamentos das pessoas né? E também minhas relações com o Renan nunca foram muito boas, então não posso perguntar. Ele nunca engoliu aquela briga na escola, como a senhora bem sabe e a gente não se bica desdaí. Não tiro a razão dele, mas fiz aquilo pela cidade e por mim mesmo, já que eu sou a cidade inteira. Fiz e se precisasse, faria de novo."

E repentinamente, a expressão de Andrés mudou para uma de atenção. Eu fiz menção de falar, mas ele me sinalizou que eu ficasse quieta. Perguntou se eu ouvia um cavalo na estrada de terra. Eu ia dizer que não, mas comecei a ouvir o som muito leve, se aproximando da minha casa.

"Quem pode ser? Renan?", perguntei, já alarmada.

Andrés sorriu. Disse que era "sêo" Danilo. E que estava vindo da cidade. Ouvimos o cavalo parar em frente ao alpendre. Ouvimos as batidas na porta e abrimos. "Sêo" Danilo entrou, pedindo licença como de costume. Disse que viu as luzes da casa acesas de longe e parou para saber se eu precisava de algo. Andrés disse a ele que olhasse pela janela. Ele afastou as cortinas e olhou. Fechou as cortinas num só golpe e olhou para nós, parecendo alarmado. Pareceu entender a situação no momento em que olhou.

"Mas "sá" Stella… O que andou fazendo? Por que é que a Polícia está aqui?"

"Não sei, mas tenho o palpite de que eu não soube aproveitar as suas lições e as do Adriano."

Ele não pareceu saber o que me dizer no momento, ficou apenas parado olhando para mim.


00:15


Eu estava nervosa e não conseguia disfarçar minha ansiedade. Se for metade do que eles estão dizendo, não posso me permitir nem "pescar" esta noite. Olhei o laptop. Meia-noite e quinze.

"Se a senhora olhar por qualquer janela da casa, o cavalo vai estar lá, "sá" Stella", disse o sertanejo, parecendo preocupado com minha situação.

Ele me levou por todos os cômodos da casa e o cavalo preto estava lá. Aparecia no campo de visão de cada uma janelas que davam vista para o entorno da casa e sempre que olhávamos ele estava parado. Não parecia jamais ter se movido dali nem vindo de outro lado da minha casa por um segundo que fosse. A visão mais bizarra e sinistra foi da perspectiva do meu qurto lá em cima. O cavalo com o pescoço torcido para cima, me olhando nos olhos. Como se me reprovasse pelo que fiz. A sensação é difícil de descrever se você nunca passou por isso (e eu duvido que um dia você vá passar por isso), mas é quase que diabolicamente esquisita.

Voltamos e Andrés estava dormindo no sofá. E deitado, roncando, ainda por cima! Bela ajuda ele está me saindo. Quando eu o sacudi, ficou sem-graça. "Seo" Danilo teve que rir da situação bisonha e nós três voltamos para a cozinha.

"Meu avô contava que o Jurupari às vezes o visitava dentro da noite", disse "seo" Danilo, "a sensação dele e de muitos outros era a de que ele estava caindo num abismo. Dizia ele que era uma sensação horrível cair e nunca cessar de cair. Uma presença sinistra rondando a cama dele, ele querendo gritar e a presença apertando o pescoço dele com força. Ele queria gritar de pavor, mas não conseguia.", acrescentou ele num tom soturno e introspectivo.

Acho fascinantes as descrições de terror noturno. Outra pessoa poderia pedir para trocar o assunto para física nuclear, agronomia, astronomia ou culinária num clima de terror como o que estava instaurado em minha casa. Mas quanto mais medo eu sentia, mais me fascinavam as histórias. Mas eu não podia perder de vista que estava no centro dessa história toda, para variar. Havia um cavalo preto onipresente no pátio externo da minha casa que só podia avistar pelas janelas e que fixava em mim o olhar mais estranho que já vi num animal em todo e qualquer tempo.

Falei da conversa que tive com Adriano e de como o que ele descreveu me lembrou tantas lendas como a mula-sem-cabeça. Andrés riu e disse que a conversa não poderia sair daqui. E ele brincou, "se Polícia Obscura já está sendo um espeto, imagina se o começam a chamar de mula-sem-cabeça". Eu não achei graça na brincadeira. Disse que não era só o meu problema nem o problema dele. Sabia-se lá o número de pessoas com problemas semelhantes de identidade em Taurinos. Citei o caso da Nigéria e de suas sociedades secretas e "seo" Danilo se interessou vivamente pelo assunto.

"E morrem assim, do nada?", ele e Andrés perguntavam.

"Sim. Como se fosse porque têm tanta certeza de que vão morrer que simplesmente morrem. O corpo reage à pressão e stress crescente e entra em falência."

"É, bem pode ser isso, sô.", disse o mineiro mais velho.


01:35


Houve um silêncio mortal. Normalmente já não gostava destes silêncios, no momento em que estávamos então, eu queria evitá-los como quem evita a peste, a fome a guerra e a morte. Depois de algum tempo, conversamos sobre todo o tipo de assunto. Do nada, o telefone tocou, me assustando. Tenho ódio dessa bosta. É só para essas coisas que eu tenho telefone. E para colocar no viva voz.

"Entrega o Adriano, D. Stella. É simples. E eu vou aí buscar o cavalo e vou amarrar ele na fazenda Taurinos. Lá ele já está dormindo e dá pra entrar de sola", disse uma vozinha familiar alegremente, soando estridente no viva-voz.

"O seu irmão me disse que você estava dormindo", eu disse, desconcertada.

"Mas quem estava dormindo e continua dormindo é o meu irmão", tornou a vozinha minúscula.

"Dois a zero para você. Já pensou em trabalhar com imitações?", eu tive de rir, mesmo um riso nervoso do dia em que fui atraída para aquele ermo seguindo para a fazenda Teixeira.

O relincho esquisito, mais parecendo um uivo, e um choque de ferraduras violento lá fora me deram a certeza de que eu podia ter disposição para piadas, mas Renan não tinha nenhuma pelo menos para o momento que ora se apresentava.

"Entrega o Adriano, D. Stella. É só ligar pra cá quando quiser.", disse a vozinha do mineiro minúsculo.

Ele desligou, ficou o som do ocupado. Os homens ficaram surpresos com o diálogo. Renan negociando o meu sono tranquilo parecia algo novo para eles. Uma ruptura afinal, numa tradição milenar de três meses?

"Se ele está aqui como a você diz, por que eu devo entregar o Adriano? Ele já me ouviu dizendo isso para vocês, não?"

"Eu não tenho idéia. Talvez o aspecto dele não possa", declarou Andrés. "Seu" Danilo estava calado, procurando pensar em algo, e finalmente disse, "são mesmo aspectos diferentes. O aspecto dele que está aqui não pode ouvir o que nós conversamos. Porque ele está amarrado na coluna do seu alpendre lá fora. Fosse assim, ele não precisaria ligar para cá."


02:25


Tomamos mais café. Eu não sabia o quanto mais iria poder continuar sem dormir. Minhas pálpebras já se recusavam a me obedecer. Os dois me reanimavam contando histórias da região. Quando eu me dei conta, os dois estavam dormindo. Ficamos um tempo assim, em que um reanimava o outro, mas de repente me encasquetou perguntar que a atuação da Polícia Obscura não se restringia às passagens de Renan pelas pessoas na estrada. Andrés disse que não se restringia mesmo.

"Ele manipula os sonhos e está cada dia melhor. Ou pior, dependendo do seu pondevista.", e ele deu uma risadinha, "lembra quando ele ficava passando nos sonhos da gente, meus, da senhora e do Anderson? E ele disse que não tinha muita força, mas queria saber quem realmente a senhora era. Ele descobriu de onde tirar força."

"Mesmo? De onde?", perguntei, interessada.

"Da raiva que ele sente de tudo o que anda, respira e se mexe nesse mundo. Legal, né?"

Lembrei de John Lydon, o psicopático crooner do PiL e de suas afirmativas sobre como a raiva é uma energia, "muito legal, maravilhoso", eu tive de concordar com Andrés, embora soubesse que era idiotice, só para não me desgastar ainda mais.


02:45


O telefone tocou de novo. Fui atender, impedindo Andrés com um gesto.

"Entrega o homem, D. Stella. A senhora sabe que vai entregar. Mais cedo ou mais tarde.", disse a vozinha estridente do menino.

"Assim você não me deixa dormir, moleque. Eu tenho até as seis para me livrar de você."

Ouvi uma sonora gargalhada do mineirinho minúsculo do outro lado da linha.

"Hahaha, quem falou?", ele disse a frase que eu mais temia. Aparentemente, os limites que nós julgávamos que ele tinha não existiam. As cercas entre nós estão caindo rapidamente. Ele disse-me: "A senhora vai mesmo sofrer pelo Adriano? Vai ser pior pra senhora do que ia ser pra ele, , mas mupió!", eu tive a ingenuidade de perguntar, "mas não termina às seis?", e ele, "termina quando a senhora dormir e acordar. Se achar que deve sofrer por ele, vá em frente. E eu estou sendo sincero, não sou como certas pessoinhas que passam a vida blefando e escondendo as coisas, D. Stella. Dormiu, acordou, pronto. Fico satisfeito.", o mineirinho se calou e o outro ao meu lado entrou na defensiva.

"Fiz e faria de novo, Renan. Você sabe que é disso que é feita essa cidade, então não fica com frescura. Não me vem com essa conversa de maldição porque você sabia como ia ser desde o começo. Você sabia o que estava escolhendo. O Bruno mês já se desesperou quando nem podia mais. Nós escolhemos vida! Vida, com todos os problemas e tudo o mais. É Polícia mesmo. Que outra polícia nós temos aqui?", disse Andrés calmamente sob os olhos tensos mas firmes de "sêo" Danilo.

Achei que Andrés acertava as contas com o que fez. Coisa que cedo ou tarde Renan teria de fazer. Mas achei também que era fácil para Andrés falar do alto da sabedoria do Plano Mestre. Cumpria a ele lembrar os outros que teriam de passar pelo processo, mas cumpria a ele também saber como fazer isso. Não bastava usar os momentos de explosão das circunstâncias para tentar incutir um bom-senso nelas. Principalmente porque Taurinos carece de qualquer senso, principalmente o bom.


03:05


Silêncio no viva-voz enquanto Andrés falava. Quando Andrés se calou, a voz de Renan irrompeu tranquilamente. Acusou Andrés de falar como um sábio (como se o diabinho lesse a minha maldita mente) enquanto ele, Renan, tinha ficado prisioneiro de uma atividade que praticou um dia por entender que era uma maneira de me proteger e proteger a cidade. Sabia que era Andrés que ele estava defendendo no final das contas, porque Andrés era a cidade e sabia que odiava Andrés com todas as forças enquanto amava a cidade em que nasceu. E isso era como amar Andrés, porque como qualquer outro habitante da cidade, eu incluída, Renan não tinha como saber onde terminava a cidade e começava Andrés ou onde terminava Andrés e começava a cidade. Eu disse isso na sala e no viva-voz. Disse que era contradição demais para uma pessoa de dez anos (não questionei ali os milênios que ele poderia ter de história pregressa criada pelo meu estado comatoso bisonho). Do outro lado do fio, Renan ficou em silêncio. Deste lado, Andrés também. Por incrível que pareça, Renan acabou me dando razão.

"É, é maomeno isso.", disse o montanhês carregado de molequinho mineiro.

Antes de desligar, a Polícia me ouviu despedir "seo" Danilo e Andrés. Se é que vou passar por isso, que seja logo. Ele assobiou do outro lado, admirado com minha coragem.

"Minha deusa com sua nobreza de costume. Mulher sacudida taí! Boa noite e boa sorte!"

O ruído do fone desligando foi de nota. Os dois me perguntaram se eu tinha certeza de que queria dormir sozinha. Eu disse que se eles ficassem, que não fosse por mim. Os dois ficaram. Fui para meu quarto ciente de que estava indo para o desconhecido. Literalmente.


04:30


Não consegui dormir. Quanta ironia. Agora sabe-se lá quanto mais terei de sofrer, como um dia disse Tim Maia. Levantei. Vou sair. Não me importa que a mula manque. Passei pelos quartos onde dormiam "seo" Danilo e Andrés e desci. Pretendo dar uma volta pelas redondezas, ver o céu noturno. Se não há nada lá fora, no pátio externo, posso tranquilamente vagar pela noite. Sem mistérios, nem medo.

Me distraio com o Cruzeiro do Sul e com a distância que sempre acho ser menor entre ele e o cinturão de Órion, mais conhecido como Três Marias. A observação do universo é intermitente. Se mescla com um som também intermitente, mas perceptível, que de início não consigo distinguir qual é. E quando consigo, já queria que não pudesse ouvir nada. Eram gritos e vinham lá da fazenda Taurinos. Adriano.

Não poderia ser outra pessoa. Corri até a fazenda Taurinos esperando acordar Andrés para me ajudar quando me lembro de que ele está dormindo em minha casa. Não consigo pensar em nada mais bizarro para relatar.

E, ajudar exatamente em que? Que posso eu, humilde psicóloga, fazer em momentos como esse? Como dominar a força dos sonhos, principalmente a dos sonhos dos outros? Não adiantaria tentar acordar Adriano; isso só iria deixar a Polícia mais enfurecida. Digo Polícia porque agora tenho de me atualizar com as coisas que rolam aqui. Sou inalienavelmente parte de Taurinos agora. Até que eu me desiluda totalmente, tentarei trazer algo de diferente para contrapor à abordagem fatalista e equivocada da vida que reina aqui em Taurinos.

Só pude acompanhar o que aconteceu pela janela da sala, encoberta por véus de cortinas. Adriano estava pendurado no teto, de cabeça para baixo. Sangue escorrendo pelos cabelos que devia vir da boca ou do nariz ou de ambos. O corpo se sacudindo em horrorosos espasmos dentro de uma luz enjoativa. O que não era sombra era penumbra e o que não era penumbra era sombra. Fora, giravam, em torno da casa grande da fazenda Taurinos, espantosos abantesmas de um passado tenebroso e de um futuro obscuro.

"Você que falou para ela não foi, caralho? Responde, seu merda! Fala, seu lixo! Eu sabia que era você. Queria ouvir ela me dizer, mas por mim tudo bem, eu já te conheço bem, grandão bobão", e mais sacudidas no corpo enorme pendurado como uma salsicha numa viga do teto. Entendi as sacudidas do corpo. Não vi quem era, mas sabia de quem se tratava. Nesse horror, gritando como uma louca e não sendo ouvida, olhando toda aquela merda acontecer com um cara que nada de mal faz aos outros e grudada nessa janela por uma cãibra estranha que me pregou aqui, eu fechei os olhos com nojo e comecei a vomitar grosso como tijolo.


09:30


Abri os olhos no mesmo instante. Foi o que pensei ter acontecido. Na verdade, já passava bem das nove quando olhei o laptop aberto na cabeceira da cama. Olhei o céu azul que a janela semifechada emoldurava de forma semiaberta. Essa vai para os Novos Poetas. Eu estava em minha cama outra vez. Nem sinal de vômito, de nada. Apenas a lembrança do sonho bizarro que acabei tendo, um sonho de horror inigualável, que falava diretamente à minha impotência diante de certos episódios de psicopatia humana. Levantei e fui até a fazenda Taurinos. Não passei da porta de casa. Um recado na minha porta da frente, "estamos em Varginha, voltamos à tarde se precisar de alguma coisa", assinado pelo casal titular da fazenda ao lado.


16:45


Eu os vi retornarem à tardinha. Somente Andrés e Duílio. E eu que supus que Andrés estava dormindo em minha casa quando saí. Perguntei por Adriano e Aparecida, ela tinha ficado com ele no Hospital de Varginha. O médico de lá disse que era uma anemia estranha, cavalar e galopante. Que ele nunca tinha visto isso na vida. Bem, talvez ele acabe vendo depois da vida, quem pode dizer? Adriano vai ficar umas duas semanas internado. No mínimo, se reagir bem.

Os homens me chamaram para dentro. Trouxeram tranqueira da cidade grande para jantar. Comida em grande quantidade. Os homens daqui comem bem. O excesso de peso é constante aqui. Não obesidade, mas um padrão de peso uniforme e irritantemente constante.

Os dois me falam do que acham que aconteceu e eu digo que o que me aconteceu foi horroroso, mas que no caso de Adriano foi muito mais que isso. Numa nota interna, a segunda vez que ele tem problemas sérios por simplesmente sentar comigo e conversar. E isso num tempo em que, julgava eu, todos os mistérios tivessem sido resolvidos e nada mais restasse a se esconder. No andar da carruagem, ele no mínimo vai acabar nunca mais sentando ao meu lado para conversar. Eu questiono pai e filho sobre como o apelido se espalhou e sobre como temos de mostrar isso à Polícia.

"A Polícia vai acabar virando um poder paralelo por aqui", disse Duílio mostrando basante desatualização. Eu disse a ele: "Já é um poder paralelo em Taurinos. Daqui de Taurinos, a Polícia matou duas pessoas em Santos. Sem sair daqui. Mas, também o pai dele só se preocupa em saber se enterramos os ossos dos pobres intrusos (se bem que nesse caso não pobres assim)."

"É, o povo ali é complicado. Espera estar com a carabina apontada para a cabeça para tomar uma providência…", disse Andrés, atraindo um olhar fulminante do pai.

Mas Duílio não conseguiu disfarçar sua inquietação com o relato das mortes em Santos. Ele não conseguia entender como algo feito aqui poderia afetar tanto a vida lá fora. Eu dei o exemplo do Rompun® quando estava em efeito por aqui a Lei dos Touros.

"Me lembro que foi a única pessoa de fora que eu vi por aqui. O homem que veio entregar o tranquilizante, lembram? Eu até recebi por vocês porque ele não queria ou não podia voltar mais tarde."

"Aisveiz não é isso não, D. Stella, às vezes já encontrou a Polícia à paisana por aí e já viu, tomou tempo quente", esclareceu Andrés.

"Mas de qualquer maneira, a discussão é: ele veio de Varginha, não veio? Fazer a entrega aqui. Ele é do mundo físico?"

"Daquele mundo de que a senhora veio, eu acredito que não. Mas de qualquer mundo que tenha vindo, aisveiz ele já cruzou a Polícia numa dessas estradas. Ele é mau com gente de fora, mau mesmo."

"É, mas se não se segurar essa tendência dele de achar que tudo o que vem de fora é ruim, pode acontecer de ninguém mais querer entregar coisas aqui, para dar um exemplo prático. E uma cidade não pode tratar a ferro e fogo pessoas de outras para que seus cidadãos não sejam tratados assim quando forem à Varginha. Boa vizinhança, entendem o espírito?"

"A senhora está confundindo as coisas.", rebateu Andrés. Fiquei olhando para ele, eu e Duílio no alto de nossa surpresa.

"Poucas vezes acontece dele pegar pessoas reais. Geralmente são idéias."

"Que diacho é isso de idéias?", Duílio perguntou, espantado, "uai, não era gente não?"

"Dois eram. Esses que a D. Stella falou, que eram de Santos. A Polícia mês disse isso para ela, eu "vi" um tempo atrás. A Polícia não mente."

"Pelos menos não para você. Aposto que vigia as ações da Polícia durante a noite", comentei, levemente divertida.

"Com um céu desse de brigadeiro todas as noites, eu vou lá ficar vigiando Polícia? Dou conta não.", ele disse, sorrindo matreiro, e piscou, "precisamos sair para ver o céu noturno uma noite dessas."

Não discordei nem recusei o convite, mas disse que no momento tínhamos coisa mais importante acontecendo na cidade.

"A Polícia vai dominar todas as nossas almas, muahahaahaha", brincou Andrés, já levando um tapa dos mais doloridos na perna esquerda pelo descontentamento causado em seu pai e retornando rapidamente ao assunto, "eu estava falando das idéias. Elas têm forma de pessoas, mas não são, são idéias da mesma pessoa. Quando as pessoas têm a idéia de cruzar a divisa de Varginha para cá, formam-se idéias que a Polícia mata no momento em que ela vê que se trata de idéias. Ele mata a idéia de vir para cá, não a pessoa que teve a idéia lá na divisa."

"Mas como pode ele distinguir o que é idéia e o que pessoa?"

"Não pode. Mas a Polícia pensa que entrar na cidade já é ruim, então ela avisa as pessoas e as idéias sem distinguir. As únicas pessoas que já entraram aqui foram os tais dois de que a senhora falou."

"E o entregador de Rompun®…"

"E os outros entregadores", ajuntou Duílio.

"Sim, os outros também, só mesmo entregadores, porque eles saem da cidade assim que fazem a entrega."

"Mas mesmo assim, pode falhar, não? Se entraram pessoas aqui, você já tem uma quebra desse padrão. E se outras pessoas vierem que não queiram me fazer mal?"

"A Polícia parecer pensar que isso não existe", disse Duílio, esclarecendo um pouco mais o ponto.

"Sim, exato, e como vai fazer se estiver matando uma pessoa que não veio aqui com essa intenção? Vai eliminar essa pessoa até no mundo físico, sem que ela seja culpada de nada a não ser ter entrado em Taurinos?"

Os homens ficaram pensativos. Até certo ponto, pareciam eles também compartilhar com a Polícia a teoria de que quem quer que entrasse em Taurinos tinha basicamente más intenções. Às vezes até penso que se os índios no Brasil tivessem feito o mesmo, não teriam padecido um décimo do que padeceram por aqui. Mas Duílio parecia querer conversar sobre Adriano, não sobre pessoas de fora da comunidade.

"Hoje mesmo vou conversar com o Octávio e Donana. Isso não se faz. Renan está levando essa implicância com o apelido dele num extremo que daqui a pouco não se dá mais conta aqui na cidade. Depois, vai fazer isso em quem olhar torto, depois em quem pensar torto e vai por aí. Eu mesmo já peguei no pé do Adriano umas tantas vezes por ele ficar dizendo que o Renan é maluco. Não gosto que se trate ninguém assim, mas nem foi o que aconteceu desta vez. Eu sei que o meu filho é falador, mas não tinha que ter feito uma barbaridade dessa com ele não. Ele nunca agrediu ninguém, e o que ele falou sobre a Polícia todo mundo da cidade fala e ninguém nunca que passou a noite do jeito que meu filho passou. Até o Andrés parece que concorda com o que a Polícia fez. Mas eu não concordo."

Devo ficar aqui por esses dias. Fazer almoço, arrumar a cozinha pelo menos. Me ofereci, eles aceitaram tão prontamente que me deu medo do jeito como eles devem deixar a casa todo dia. Ficar aqui e ajudar, antes que os dois se afoguem na desordem dentro de sua própria casa.

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