domingo, 2 de agosto de 2009

Babilônia

Na cidade, com Duílio, Adriano, Aparecida, Andrés e "sêo" Danilo. Parando no Zé das Profundezas para almoçar (e rezando para que ele tivesse almoço). Duílio comentou que não sabia como o Zé ainda mantinha as portas abertas se nunca tinha nada para servir, afora o que ele servia aos pinguços habituais de Taurinos.

E parece que todo mundo se encontra no Zé. Pois não é que a família Feletti teve a mesma ideia? Não há tantos lugares assim para se ir em Taurinos, não há como evitar encontrar amigos ou desafetos nas ruas da cidade. Quando os Feletti perceberam que todo o clã Conselheiro estava reunido, mais a santista mal-educada que recusava presentes de aniversário, já era tarde demais para disfarçar e sair do bar. E era tarde até para eles escolherem uma mesa do lado de fora. Simone, a caçulinha do clã Feletti, adorava Adriano e "sêo" Danilo e veio direto para nossa mesa. Adriano se derretia todo com a menininha minúscula e graciosa. Arthur cumprimentou Adriano, Andrés, Aparecida, Duílio e "sêo" Danilo. Duílio ia se manifestar sobre a minha presença e eu chutei a canela dele por debaixo da mesa. Seguiu-se um silêncio constrangedor, com o homenzarrão me olhando feio e esfregando sua canela.

"Vem pra cá, Simone", chamou o irmão mais velho, contrariado, "não fique incomodando as pessoas."

"Incomoda não, "sêo" Arthur", garantiu o velho sertanejo, "ela é tranquila."

"Arthur, senta aí com a gente, cara. Chama teus pais, faz uma mesa só", convidou Adriano.

Arthur nem procurou disfarçar um olhar para mim antes de recusar o convite. D. Carolina e "sêo" Horácio cumprimentaram a todos tão contrariados quanto seu filho. Escolheram uma mesa mais distante. De lá, Arthur lançava olhares mal-humorados para a nossa mesa, onde Simone insistia em ficar apesar dos chamados do irmão.

Almoçamos. Foi um silêncio mortal dentro do bar. Já estava eu dizendo a mim mesma que preferia ter almoçado em casa quando o tédio da refeição dominical transformou-se em ação, só que do tipo indesejável. Depois de chamar a irmãzinha pela centésima vez para almoçar na mesa da sua família, Arthur perdeu a paciência e veio à nossa mesa buscar a menina à força. Andrés e "sêo" Danilo olharam para mim sem muita simpatia pelo que estava acontecendo. Os dois casais se entreolharam, presos no mesmo sentimento.

"Arthur, deixa a menina, cara. Ela não está incomodando nem um pouco, pode acreditar", tentou Adriano.

"Vamos pra lá, Simone. Tem uma pessoa nessa mesa que é muito mal-agradecida e não tem educação", e ele puxava a menina, que começou a chorar.

Era claro que o problema na mesa era eu. Precisava parar de vir ao Zé das Profundezas já que sempre que vinha aqui acontecia uma dessas. Da última vez que vim, era o Anderson com a tromba (e ainda por cima saímos do bar sem comer). Agora ele passava a tromba para o Arthur. O cenário é que nunca mudava. O pai de Arthur interviu, zangado.

"Arthur, relaxa aí. Isso não é jeito de tratar os mais velhos!"

"É isso mesmo, mal-agradecida e sem educação!", e ele olhou enfurecido para mim de modo que chegava a assustar. Mais um ursinho para me provocar pesadelos à noite?

Pelo que ele falou em seguida, depreendi que outras pessoas na cidade sabiam que ele iria colocar um jardim em minha casa. Foi aquele inferno, os pais tentando acalmar o zangão (e a menininha agora chorando sem parar). Entendi tudo. Estavam infernizando o menino na cidade por causa da promessa que não se realizou. Felizmente (para mim) a notícia da recusa se espalhou tão rápido quanto a do jardim ou eu teria romarias vindo visitar minha casa e seus jardins, nem suspensos, nem da Babilônia. Foi quando tive a certeza de que recusar o jardim foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.

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