sábado, 4 de julho de 2009

Método

Mithraeum. Os sete meninos, "sêo" Danilo, eu. Anderson parece cada vez mais isolado do grupo. Por vezes chego a notar uma certa estranheza dele ao lugar, como se ele ali não pertencesse.

Como se ali não pertencesse. Não sei porque a frase ficou dando voltas na minha cabeça. Agora Bruno abria a reunião com uma analise simpática das tentativas até o momento:

"Bom, nós achamos que um músico poderia ajudar, então foi o Guilherme. Só que não funcionou. Alguma outra ideia brilhante?"

"Alguma ideia brilhante sua, Bruno? Não vejo você envolvido na história, como se quisesse ficar na sombra. Arthur não tem colaborado também, mas pelo menos está calado, sem cobrar ninguém", Guilherme pareceu irritado com as críticas do amigo ranzinza da fazenda Pinho. Volvi os olhos para Arthur, que pareceu francamente incomodado com a cobrança velada.

"Estou à disposição de vocês para ir pra Ilha Basilisco a hora que quiser", declarou Arthur, seguido de perto por Bruno. Este último acrescentou, "o que eu quero dizer mesmo é que nada está funcionando. Não queria dizer que vocês não estão ajudando, sei que estão, muito mais que eu, mas será que nada do que a gente faça consegue dar jeito nas coisas? Que merda é essa que sempre acontece que dá tudo errado?"

"Bruno, a gente entende a sua zanga, mas se o povo não se juntar e assuntar junto, não se chega a lugar nenhum. Só a zanga não leva a nada", "sêo" Danilo admoestava.

"Gente, o papo está bom, mas como disse "sêo" Danilo, e quanto à situação?", Andrés sentia a conversa saindo fora do eixo.

"Não há problema nenhum na fundição do sino", adiantou-se Anderson, com aquele ar irritado que eu já tinha me enjoado de ver.

"Não há mesmo, Anderson", concordou Andrés, "o problema está em você ou Renan ou nos dois juntos."

Uma pausa carregada de significado e pensamentos. Depois, Renan entrou numa defensiva e disse que não havia nenhum problema com ele em si. Sua rotação, como membro da Polícia Obscura vinha caindo junto com o sino, era consequência dele e não causa de seu problema.

"Se é assim, por que é a rotação do Anderson não cai?", inquiriu Bruno, agora mais atento à matéria de que se tratava ali.

Anderson virou para ele como que tocado por uma descarga elétrica. Foi nítida a reação brusca que ele teve. Cada vez que era mencionado, um tranco. Tenho de concordar com Renan quando ele diz que está sendo afetado pelo problema do sino ao invés de causá-lo. O problema em questão estava em Anderson. Todos os olhares convergiram para o ferreiro. Ele assumiu uma postura defensiva na própria linguagem de corpo que demostrou. Eu vi Guilherme tirar o diapasão do bolso e percutir a arquibancada com ele. O som minúsculo se propagou no silêncio e nada mais aconteceu. Anderson olhava para ele, como se soubesse que Guilherme o estava testando com aquele garfinho.

"A pergunta é boa", ajuntou Arthur, "se o problema afeta a Polícia Obscura, por que só Renan está rodando em velocidade mais baixa enquanto Anderson, que faz tão parte da Polícia Obscura quanto ele está rodando em velocidade normal?"

Anderson não soube responder a pergunta dos dois. Era um questionamento válido. O que causava a diferença entre os dois? Anderson mostrava-se abertamente desconfortável com o assunto. Mas Andrés parecia ter uma bomba maior com a história do polegar que foi oferecido a ele pelo ferreiro. A história provocou estranhamentos entre os presentes. Eu vi Renan se encolher e baixar a cabeça, atacado de uma súbita tristeza por aquilo que tinha acabado de ouvir. Eu sentei ao lado dele e ele se agarrou comigo chorando. Todos pareciam chocados com o que tinham ouvido. "Sêo" Danilo olhou para mim embasbacado e eu confirmei a história com a cabeça.

"Isso é blasfêmia, irmão Anderson. Você não passou no teste. Viu que não seria difícil obter um método de acabar com o Renan se tivesse um polegar pra oferecer", sentenciou Andrés,

Anderson perguntou calmamente (ou procurando aparentar calma), "e qual é a punição?"

"A que o Conselho decidir", adiantou Adriano, "vamos examinar a sua conduta, irmão ferreiro, muita gente aqui tem diferença com o Renan, mas querer fazer mal é outra coisa. Ele é do nosso povo, como você, D. Stella, qualquer um aqui dentro."

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