quarta-feira, 1 de abril de 2009

Teatro de sombras

Outro sonho. Estou sozinha no campo. Novamente o sol se pondo. As sombras se alongam cada vez mais à medida que o sol afunda atrás das montanhas. Renan aparece do nada, uma sombra andando em volta. Sei que é ele, vejo a sombra dele, mas por mais que vire ao redor, não consigo ver o dono da sombra. A sombra parecia perpassar todo o meu corpo, como se estivesse dançando comigo. Uma sensação tão leve e no entanto tão carregada de pressentimentos.

Às dez da manhã, me chamaram no telefone. Era Andrés me contando o mesmo sonho. Eu disse a ele que tinha sonhado o mesmo e ouvi um barulho altíssimo do outro lado da linha. Depois, foi só o silêncio. Andrés voltou ao telefone quando eu já me preparava para desligar e ir atrás de socorro. Explicou que caiu da cadeira com o fone na mão. Perguntei a ele o que havia de tão esmagador em termos sonhado a mesma coisa. Ele disse que era estranho. Eu respondi que ele como mineiro e principalmente sendo um mineiro natural de Taurinos, já deveria estar acostumado.

Estranho mesmo foi Anderson ter ligado nem trinta minutos depois e me contado o mesmo sonho. Ele não caiu da cadeira como Andrés, quando lhe falei de mim e do gordinho, mas ficou uns momentos incomunicável. Mentalmente, me perguntei o que era isso agora. De que novo desafio podemos estar diante em nossa vida em Taurinos neste momento.

Nós nos reunimos na casa de "Sêo" Danilo no cair da tarde. Andrés e Anderson até trouxeram pão de queijo de casa. Estávamos intrigados pela circunstância do sonho que tivemos em comum. Separados no sonho e na realidade, tivemos a mesma visão do mesmo lugar e a dança da sombra ao redor, movimentos precisamente repetidos em todas as nossas narrações.

"Eu já tinha ouvido falar disso, mas nunca vi acontecer de verdade", afirmou "sêo" Danilo, sorrindo, "e todos vocês sabiam que era o Renan o tempo todo?"

Dissemos que sim. Anderson foi o que chegou mais perto de ver Renan, e mesmo assim foi um instante muito curto e o rosto dele estava embaçado pelo movimento ao redor.

"Mas mesmo vendo mal, eu tenho certeza de que era ele o tempo todo."

Eu disse a eles que liguei para Bruno e ele me disse não ter sonhado nada parecido. Para falar a verdade, ele não se lembrou do sonho. Liguei para ele porque se aconteceu comigo, com Anderson e com Andrés, poderia ter acontecido a qualquer dos sete membros da Sociedade Antiga dos Taurinos. Mas não aconteceu com Renan, Guilherme, Bruno ou Adriano. Perguntei pessoalmente aos irmãos Teixeira, mas jamais falei de Renan estando no sonho. Guilherme disse que não sonhou com nada durante a noite. Renan disse que sonhou que estava num parque de diversões em Belo Horizonte. Adriano, perguntado pelo irmão (a primeira coisa que Andrés fez ao acordar provavelmente), disse que não se lembrava de sonho nenhum durante a noite.

"Interessante, só vocês três", "sêo" Danilo tinha a testa franzida de verdade, "o que pode ser isso agora?"

"Eu e D. Stella conversamos sobre isso", disse Andrés, "desde o dia da cerimônia quando nós matamos os touros, ele ficou meio estranho quando a cerimônia acabou. Ficou fascinado pelo que a D. Stella fez com o touro na arena e parece que ele quer ser muito mais do que ela foi. Lembro bem que ele queria aquele touro para ele, porque foi o touro que causou a morte do Arthur um dia antes antes da cerimônia. Como eu e o Anderson entramos na história eu não sei."

"Pode ter sido quando negou o touro para ele", sugeriu Anderson, "pode ter sido um montão de coisas, Andrés."

"Não fui eu que destinei o touro para ela, foi o "sêo" Horácio, pai do nosso amigo morto, lembra?"

"Até aí, mas e o Renan quer saber, por acaso? Para ele, foi você que proibiu e acabou a história…"

Andrés ficou calado desta vez. Eu disse que se concordava com Anderson era quando ele dizia que poderia ter sido um montão de coisas.

Ossos e estiletes | Gente e urubus

Rádio Universal: Teatro De Sombras

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