sábado, 11 de abril de 2009

Nostalgia

Anderson apareceu hoje de manhã. Eu o vi, pelo menos por uns dez minutos, antes que ele e Renan desaparecessem. Eu queria conversar com Anderson sobre as sessões de sonhos, mas ele e Renan pareciam ter coisas mais sérias a tratar. Logo depois, apareceu Andrés.

"Como está a senhora no dia de hoje?"

Andrés parecia ter sido trocado por outro. Ele jamais me perguntaria nada nem remotamente parecido com "como está a senhora no dia de hoje?", não combina com o que conheço dele. É como se ele não pudesse ter vindo e enviasse um clone mal-treinado dele em seu lugar.

"Estou bem, e o senhor?", eu disse, e ele ficou meio sem-graça.

Andrés passou a me contar sobre suas vidas pregressas. De como as coisas eram feitas para durar, essas coisas que as pessoas sempre dizem em seus momentos de nostalgia. E eu imagino o quanto de nostalgia ele deve sentir, tendo vivido aqui tantas vezes e se lembrando de tudo isso.

Renan e Anderson não devem voltar tão cedo. Eu e Andrés nos deixamos ficar no alpendre, observando a paisagem lá fora como sempre fazemos. As pausas que nos damos entre um e outro ponto da conversa são sempre gigantescas. Não nos importamos em ficar calados por longos períodos na presença um do outro.

Quebrando o silêncio, sugeri que saíssemos atrás dos outros dois. Andrés discordou de pronto da minha idéia. Perguntei o motivo. Ele disse que os dois iriam vir mesmo de volta à fazenda, por que então perder tempo procurando? Concordei com ele e nos deixamos ficar um pouco mais. À medida que o tempo passava eu ficava impaciente e Andrés desassossegado, olhando para todos os lados, provavelmente numa tentativa febril de avistar os outros dois. Não sei se era impaciência, nem se se devia ao mesmo motivo que minha apreensão.

Quando eu já me preparava para sair atrás dos dois com ou sem Andrés (ele pelo jeito não se moveria do lugar), eis que os dois apontam na virada da casa da fazenda, vindos de lá de trás, completamente cobertos de suor, como se tivessem dado duro na enxada pelos últimos trinta minutos. Eu os observava espantada e Andrés só fazia olhar para os dois e sacudir a cabeça em sinal de flagrante reprovação.

M.R.O. | Planária

Rádio Universal: Teatro De Sombras

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