sexta-feira, 10 de abril de 2009

M.R.O.

Eu abri os olhos. A escuridão do quarto só era quebrada pela meia-luz do abajur na cabeceira da cama de Renan. Me levantei e fui olhar o relógio de cabeceira. Eram duas horas da manhã. Quando me virei de volta, o espanto: gelei dos pés à cabeça e tremi de cima a baixo ao dar com o rosto de Andrés, exatamente onde eu estava parada, me olhando com os olhos bem abertos. Os olhos eram quase fluorescentes na penumbra, o que dava a ele um aspecto sinistro.

"Quer me matar da porra do coração?" meu coração ainda batia descompassado.

"Eu só vim ver as horas… Não sabia que a senhora estava acordada."

Eu apontei para a cama de armar onde ele estava dormindo. Ele se apavorou ligeiramente em se ver ainda deitado na cama. E lá estava eu, deitada na minha cama de armar, e parada aqui com ele ao lado da cama de Renan. Deveria haver oito de nós aqui, mas só há seis. Anderson e Renan não estão sonhando. Aparentemente. Eu cheguei bem perto do rosto de Renan e olhei os olhos sob as pálpebras. Não se moviam, nada indicava sono M.R.O.

"Não deu certo, então?"

"Isso, ou eles estão num nível de sono e (de sonho) diferente do…"

Não consegui terminar a frase. Do nada, sem mais, o alarme do rádio-relógio escancara a programação da Vanguarda FM de Varginha e uma canção radiofônica popular começa a berrar no topo do volume dentro do quarto:


"Esta canção eu ofereço para aquilo que eu amo. Esta canção eu ofereço para aquilo que eu deixei para trás. Uma coisa simples para ocupar meu tempo. Esta canção eu ofereço para aquilo que eu amo. Esta canção eu ofereço para aquilo que eu amo. Esta canção eu ofereço para aquilo que eu deixei para trás. Uma outra coisa agora ocupa meu tempo. Esta canção eu ofereço para aquilo que eu amo. Fogo — ela está descendo sozinha agora."
Aquilo Que Eu Amo, escrita e gravada por R.E.M.


"Creio em Deus Padre, onde desliga isso?" Andrés perguntava, em pleno exercício de sua taquicardia.

"Ah, que isso, Andrés; R.E.M. é uma banda bem legal, se quer saber."

Uma outra coisa agora ocupa meu tempo. Até acharmos o botão e desligarmos o maldito rádio, Michael Stipe já terá cantado a música, assumido (mais uma vez) sua homossexualidade e já terá saído (mais uma vez) em turnê mundial com os outros dois membros da banda.

"Aqui" e Andrés conseguiu encontrar o botão quando eu já me preparava para arrancar o plug da tomada. Silêncio total caiu sobre a penumbra do quarto. Ficamos um tempão olhando um para a cara do outro sem dizer palavra. Talvez para curtir o silêncio que nos custou tanto conseguir. A sensação de susto foi lentamente cedendo lugar à calma típica da noite. Os dois continuavam sobre a cama e se estavam fora do corpo, não estavam aqui. Me aproximei de Anderson. M.R.O. Andrés me perguntou que diabo eu tanto falava em M.R.O. e eu disse a ele que era um estágio de sono onde os sonhos vívidos eram recordados. Os outros dois não apareceram em parte alguma.

Grande sono | Nostalgia

Rádio Universal: Teatro De Sombras

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