sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Taurinos

O telefone tocou, me tirando do sono. São nove horas da manhã. Ouço a voz da Meire distante pelo fone, distante estou eu, com os olhos ainda grudados de sono. Ela diz que não está zangada comigo. Mas que eu poderia ter sido menos dura. Pergunto a ela a que dureza ela se refere. Ela diz que minha franqueza é cortante como um punhal. Eu disse a ela que punhais são para perfurar, não para cortar.

"Você sabe o que eu quero dizer, não seja chata."

"Estou indo viajar para Minas Gerais hoje à tarde. Acho que vamos ficar um tempinho sem nos ver."

"Ah…"

A voz dela parecia desanimada. Percebo que Meire tem realmente poucas amigas nas quais realmente pode confiar. O modo como me conta suas coisas do dia é um modo que não se espera que se aplique a todos os que ela conhece. Há um grau de intimidade nas coisas que me conta, essas opiniões explosivas, como as de quarta-feira. Prometo ligar asim que retornar de viagem e desligo.

Às três horas pontualmente, a campaínha da porta. Duílio retorna com a esposa desta vez, tudo embalado e pronto para ir. Fico imaginando o que a teria levado a perder a entrevista ou porque os dois teriam chegado à conclusão de que seria melhor que ela não fosse. De qualquer modo, Maria Aparecida é uma mulher realmente simpática. Um sorriso que é atrativo sem sombra de exagero ou afetação.



"O Google Earth se esqueceu de nós"

Maria Aparecida



Conversávamos sobre tudo no carro. Política e em como o governo vai nos roubar da próxima vez. Paisagens belíssimas da Serra do Mar (onde estávamos), no caminho para São Paulo. Não que não dê alguns apartes, mas Duílio pouco fala ao volante. Eu e Aparecida fazíamos a roda de conversa geral em seu lugar.

Pergunto sobre a cidade para a qual estamos indo, Taurinos, MG. Disse a eles que jamais tinha ouvido falar na cidade. Eles me disseram que a cidade era pequena, dois mil habitantes no máximo e raramente aparecia em mapas. "O Google Earth se esqueceu de nós", disse Aparecida, rindo.

"E faz divisa com Varginha?"

"Sim, como eles dizem nas estatísticas oficiais, faz parte da macrorregião de Varginha…"

"E quantos quilômetros de Varginha até Taurinos?"

"Duzentos quilômetros."

Eu não tinha certeza se tinha entendido direito.

"Duzentos quilômetros? Como pode estar na macrorregião de Varginha se está a duzentos quilômetros de distância de lá? Dependendo da direção, Taurinos então poderia ser até no estado de São Paulo…"

Aparecida pareceu embaraçada. Disse que nunca tinha parado para pensar nisso. Não insisti, ela tinha sido bem categórica com a informação. Fiquei pensando no que poderia ser. A esposa de Duílio não pareceu ter brincado.

Pergunto então a origem do nome da cidade. Duílio nem olha em minha direção, mas é evidente que a pergunta lhe parece difícil de responder. Além do mais, está dirigindo, uma boa desculpa para não responder. Aparecida, como boa relações públicas que se revelava, levou também o seu tempo de reflexão sobre o assunto, mas disse que a origem do nome da cidade estava nos touros reprodutores dos quais o local em tempos idos era uma espécie de entreposto.

"Interessante." eu não senti, a despeito de toda a sua simpatia, muita firmeza de convicção da parte de Aparecida ao me contar sobre a origem do nome. Pode ser que ela esteja em dúvida ou mesmo não saiba a origem, mas precisa me presentear com algo, afinal seria estranho que fossem nativos de uma cidade e desconhecer totalmente a origem de seu nome. Pensando bem, quantas pessoas em Santos, nativas do lugar, sabem da origem de seu nome?

São nove horas da noite e já cumprimos a maior parte do percurso para Taurinos, serpenteando por estradas cada vez mais secundárias até chegarmos a uma estrada de terra e começarmos a subir uma montanha imensa. Levamos mais bem umas duas horas até que chegássemos a Taurinos, mais ou menos às onze e meia.

Duílio aproximou o carro de uma porteira que ficava bem distante da estrada de terra para fora do município. Uma placa indicava a Fazenda Taurinos. Não vi quem estava na porteira no escuro da noite, mas com certeza sei que ela não se abriu sozinha ou graças à tecnologia wireless. Descemos do carro para sermos recebidos pelo friozinho da noite e o maravilhoso aroma dos ciprestes vindo de toda parte.

"Venha, D. Stella, vamos mostrar seu quarto."

Aparecida me levou para conhecer a casa. Belíssimo lar colonial, típica sede de fazenda com todos aqueles objetos antigos dos tempos de glória do café-com-leite quando tantas fortunas aqui se fizeram do cultivo da terra e da criação de gado. Pergunto sobre Andrés e ela me diz que só vou poder conhecê-lo de manhã, porque ele já está dormindo a esta altura do Campeonato. Me diz também que há conexões com a internet em cada quarto, se eu quisesse usar. Em meu quarto, finalmente sozinha, ligo meu laptop antes mesmo de me instalar.

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