quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Cordilheiras

Encontrei essa letra na Internet hoje. Fiquei me lembrando da frase de Andrés sobre destruir a semente do mal ou coisa parecida e me veio à lembrança uma música antiga, suave porém estranha por soar marcial, de letra bastante agressiva.

"Eu quero ter a sensação das cordilheiras, desabando sobre as flores inocentes e rasteiras. Eu quero ver a procissão dos suicidas, caminhando para a morte pelo bem de nossas vidas. Eu quero crer nas solução do evangelhos, obrigando os nossos moços ao poder dos nossos velhos. Eu quero ler o coração dos comandantes, condenando os seus soldados pela orgia dos farsantes. Eu quero apenas ser cruel naturalmente, e descobrir onde o mal nasce e destruir sua semente. Eu quero ser da legião dos grandes mitos, transformando a juventude num exército de aflitos. Eu quero ver a ascensão de Iscariotes, e no sábado um Jesus crucificado em cada poste. Eu quero ler na sagração dos estandartes, uma frase escrita a fogo pelo punho de deus Marte."

Cordilheiras. Escrita por Paulo César Pinheiro e Sueli Costa.

Observando a letra atentamente, me pareceu ter tanta coisa em comum com esses dias que tenho vivido aqui. Tenha ou não tenha, sua agressividade sempre me fascinou. A elegia ao brutal, ao violento, à opressão significando no fundo das metáforas elaboradas algo completamente oposto foi algo que sempre me atraiu e sempre me atrairá nessa música fantástica.

Mostrei o poema a Andrés. Ele não gostou. Bem, mais ou menos. A ascensão de Iscariotes caiu terrivelmente mal com suas convicções cristãs. Um Jesus crucificado em cada poste pegou mais mal ainda. A únicas partes que ele gostou foram as das cordilheiras desabando e a parte que mais me interessou e que justamente foi a que me fez lembrar dele: "Eu quero apenas ser cruel naturalmente, e descobrir onde o mal nasce e destruir sua semente."

Comentei com ele que a frase dele sobre o Grande Um foi o que fez com que eu me lembrasse dessa letra. Ele disse que isso era um augúrio.

"Com tudo que eu estou vendo, acho que é a senhora que vai encontrar o Grande Um primeiro. Eu sinto a sua sintonia desde que chegou."



"Eu quero apenas ser cruel naturalmente,
e descobrir onde o mal nasce e destruir sua semente."


Cordilheiras, escrita por Paulo César Pinheiro e Sueli Costa.



No carro de Duílio, à tarde. Seguindo para a fazenda da família de Diogo e Gustavo. No carro, eu, o motorista, Andrés, e os dois irmãos. Eles estão realmente nervosos. Quase para romper em choro convulsivo. Andrés comenta que não dá para culpá-los pelos nervos à flor da pele. Reflito o quanto de sofrimento isso tem causado à comunidade em si. O fantasma da aparição do Grande Um cada vez que uma fazenda ganha novos bezerros, como uma espada de Dâmocles, sempre pendendo sobre as cabeças, sempre uma ameaça.

"Vai ter valido a pena quando pusermos as mãos nele", Andrés abraçou fraternalmente os dois, movimento que vi pelo retrovisor. "A gente finalmente vai poder crescer como gente normal sem esse medo no nosso futuro."

Na fazenda, silêncio por toda parte. Nem passamos pela casa da família, fomos direto aos currais que, como na casa dos Conselheiros, ficavam muitíssimo distantes da casa sede. Duílio foi o único a ficar dentro do carro. Entramos com cuidado no celeiro. A porta se abriu e a escuridão e penumbra típica do interior de um celeiro nos envolveu. Atmosfera tranqüila. A luz que filtrava de uma janela muito alta, única fonte de luz natural para o lugar.

"Parece tranqüilo, não?" Eu disse a Andrés.

"Vamos olhar os bichinhos", ele respondeu.

Diogo e Gustavo não se mexeram do lugar. Já era temerário demais para eles estar dentro do celeiro com a vaca e os bezerros. Eu e Andrés nos aproximamos dos bezerros com cuidado. Ele me disse que somente prestasse atenção nos bezerros machos e nada mais. Que qualquer coisa estranha que visse em um dos bezerros poderia ser o sinal. Disse que a atmosfera tranqüila sugeria que tudo estava normal, mas que ela poderia muito bem ser falsa. Me peguei a pensar que manhas e artimanhas poderia ter a entidade que eles chamavam Grande Um para se disfarçar e escapar à perseguição dos homens.

"Não vejo nada diferente nesses bichos", eu declarei, "até onde vejo, são animaizinhos inofensivos, nada mais."

"Não há touros inofensivos em Taurinos, D. Stella", ele discordou, "mas tem razão, não tem nada de estranho aqui."

Os irmãos agora sorriam, como que salvos do inferno de Dante. No carro, pensei novamente no manto de medo se abateu sobre a cidade. Violência e medo de mãos dadas enquanto o carro corria para entregar os irmãos de volta em casa, sãos e salvos. Por enquanto, pelo menos.

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